sexta-feira, novembro 28, 2014

Cante Alentejano: Património Imaterial da Humanidade

Hoje é com muito orgulho que vos trago nesta edição uma das maiores alegrias que poderia ter recebido esta semana: Cante alentejano já é Património Imaterial da Humanidade.

Primeiro porque uma das minhas costelas nasceu no baixo alentejo, Conceição - uma freguesia portuguesa no concelho de Ourique e a outra costela nasceu em Avis.

Mas não foi em Conceição que me recordo do meu pai, mas sim no Cercal do Alentejo onde ele permaneceu até aos dezoito anos antes de emigrar e imigrar.

Recordo-me bem criança, tinha três anos e escutava o meu pai a cantar como solista o "tão afamado cante alentejano" ainda numa das tabernas em Elvas, reunido de uma moldura de homens que o acompanhavam num copinho de vinho bem alegres e descontraídos.

Sim passámos muitas dificuldades à semelhança de muitos portugueses mas aqueles cantes polifónicos encantavam-me e cujas letras falavam do campo, da agricultura, da miséria, que homens de várias profissões fossem mineiros, padeiros, mecânicos, funcionários, obviamente agricultores entoavam tal como os seus antepassados.

Durante a ditadura os alentejanos criaram letras sobre a fome, miséria ou repressão, quando a pobreza obreigou muitos alentejanos a migrar para a cintura industrial de lisboa, grupos semelhantes começaram a surgir à volta da capital, mostrando que onde quer que os alentejanos estejam, o Cante faz parte da sua identidade

O cante alentejano não é uma musica qualquer, é um património colectivo do alentejo, constituido por centenas de modas que muita gente canta mesmo sem saber quem as escreveu. Inclusivamente está inserido no calendário religioso, crentes e não crentes, intérpretes cantam com orgulho os cânticos do natal e da festa dos reis.

No começo do século XX, alguns grupos ou ranchos, organizaram o cante informal das aldeias em coros locais com ensaios regulares. Os grupos masculinos foram promovidos e deram lugar por exemplo ao folclore nacional onde foram a vários concursos como foram avaliados não só o Cante mas também os trajes regionais, de trabalho, domingueiros ou próprios da burguesia.

Hoje em dia não existem apenas coros masculinos, existem femininos e mistos, exemplo do que provinha do campo quando homens e mulheres trabalhavam lado a lado.

O cante alentejano é definido como uma polifonia unica, onde existem dois solistas e o coro. Quem arranca é o ponto com uma voz muito precisa, seguido pelo alto, uma voz mais aguda e com mais cor.

A nomeação portuguesa foi considerada “exemplar” pelo órgão de avaliação da UNESCO – o chamado “corpo subsidiário” – cujos membros se declararam “unânimes sobre a qualidade desta candidatura”.

O cante é a terceira nomeação portuguesa a ser consagrada internacionalmente pela UNESCO, depois do fado em 2011, e da dieta mediterrânica em 2013 (uma candidatura apresentada em conjunto com Espanha, Marrocos, Itália, Grécia, Chipre e Croácia).

É de salientar a importância destas duas candidaturas, a do fado e esta”, disse ao jornal público o cantor Vitorino, presente na sede da UNESCO, em Paris. “O fado é muito solitário e individual. O cante é uma expressão colectiva – ele implica entre 18 e 30 vozes. É inclusiva. É muito atenta ao movimento social.” O cantor, que tem inscrito o cante no seu trabalho musical, acredita que o reconhecimento do mesmo como património da humanidade “vai eternizá-lo”.

E já agora a titulo de curiosidade: "Grândola Vila Morena" milhões de pessoas reconhecem esta canção, o hino da revolução portuguesa, o que talvez você não saiba é que grândola é uma homenagem ao Cante.

O cante que orgulhosamente eu vejo e assisto ao ser reconhecido como Património Imaterial da Humanidade é uma mais nobres tradições musicais que permanecerá nas raízes e na alma do Povo português.

Parabéns povo alentejano, Parabéns Portugal !

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